Considero muito interessante o tema e o repto lançado, aqui, por João Caetano.
Não se trata de seguir propriamente uma abordagem à problemática em causa numa perspectiva de actualidades. De resto, se virmos bem, a actualidade "modista" dificilmente passará, hoje em dia e no nosso meio, por questões gaulesas. O atrofiamento de "fontes" e a relativamente pouca curiosidade intelectual por temas e realidades que não nos sejam servidos, de bandeja, pela imprensa, marcam um pouco a nossa cosmovisão dominante, a nossa iliteracia "cultural/intelectual" corrente (como se toda a iliteracia não fosse também, porventura, "cultural/intelectual")....
Na realidade a França deixou de estar na moda; melhor ainda, talvez esteja na moda, em certos meios, dizer-se que a França já não está na moda!
O que sucede é que a "questão francesa" (a complexa questão social, económica, cultural e sociológica francesa) talvez seja, actualmente, o melhor laboratório para podermos trabalhar (especular) numa certa antevisão do futuro da Europa.
O velho modelo de Estado social talvez tenha tido em França o seu desenvolvimento mais especificamente "europeu" (não considero, agora, comparações com outras expressões do dito modelo, como, por exemplo, a que resulta da tão propalada experiência nórdica); o culto/mito da integração multicultural transformada em política de Estado talvez tenha sido, em França e durante as décadas precedentes (1980 e 1990) levada ao extremo; o culto do cloisonnement em torno de si própria, da sua realidade, da "especificidade" francesa (vá-se lá saber, ao certo, o que é que tal significa) talvez seja uma das características marcantes de uma certa elite francesa, assim como o medo da concorrência - e isto, apesar de (paradoxalmente, diriam aos anti-franceses militantes) continuar a ter uma sociedade e uma economia em que se cultiva quase sacrossantamente o valor "livre concorrência" (mesmo- talvez, sobretudo - em termos jurídicos). Apesar de tudo, a França continua a manter uma vitalidade económica e empresarial relativamente notáveis (malgré tout, continua a ser a quarta economia mundial, no que diz respeito a alguns dos princípais índices e critérios de análise)...
Ora, o dilema/paradoxo e, simultaneamente, o desafio de uma certa cultura dominante gaulesa passa por dar sentido à tal maneira sui generis de ser e de viver, aproveitando as vantagens da mondialisation, ao mesmo tempo que a proscrevem; reencontrar uma nova forma de vida, viável, para o que de bom terá o dito modelo (tão europeu) de Estado social, mas recriando-o à la française... Enfim, ultrapassar os equívocos de quem, aparentemente, recusa a realidade envolvente, nela integrando-se, contudo, por vezes, exemplarmente (ver alguns casos de sucesso global de empresas, organizações, instituições francesas).
O desafio é esse mesmo: eu não acredito nos "mitos" de uma certa elite (opinião pública ou simplesmente, publicada) francesa; no entanto, tenho muita curiosidade em saber como é que a França dos nossos dias dará a "volta à questão". Como conseguirá evoluir, respeitando os seus "mitos" (talvez meras ilusões de um tempo perdido?), sendo simultaneamente, competitiva (em sentido amplo), criadora de riqueza, cultura, saber e bem estar...
Se o conseguirem - prosseguindo, contudo, tais "mitos" - então, novamente, daqui a uma ou duas décadas, poderão voltar a iluminar o mapa do caminho da Europa (bom caminho, espera-se!), especificamente europeu. Terão, talvez, conseguido alcançar a quadratura do círculo, ou redescoberto o ovo de colombo!
A questão a discutir - parece-me - é precisamente a desses "mitos". A ela também voltarei...
Não se trata de seguir propriamente uma abordagem à problemática em causa numa perspectiva de actualidades. De resto, se virmos bem, a actualidade "modista" dificilmente passará, hoje em dia e no nosso meio, por questões gaulesas. O atrofiamento de "fontes" e a relativamente pouca curiosidade intelectual por temas e realidades que não nos sejam servidos, de bandeja, pela imprensa, marcam um pouco a nossa cosmovisão dominante, a nossa iliteracia "cultural/intelectual" corrente (como se toda a iliteracia não fosse também, porventura, "cultural/intelectual")....
Na realidade a França deixou de estar na moda; melhor ainda, talvez esteja na moda, em certos meios, dizer-se que a França já não está na moda!
O que sucede é que a "questão francesa" (a complexa questão social, económica, cultural e sociológica francesa) talvez seja, actualmente, o melhor laboratório para podermos trabalhar (especular) numa certa antevisão do futuro da Europa.
O velho modelo de Estado social talvez tenha tido em França o seu desenvolvimento mais especificamente "europeu" (não considero, agora, comparações com outras expressões do dito modelo, como, por exemplo, a que resulta da tão propalada experiência nórdica); o culto/mito da integração multicultural transformada em política de Estado talvez tenha sido, em França e durante as décadas precedentes (1980 e 1990) levada ao extremo; o culto do cloisonnement em torno de si própria, da sua realidade, da "especificidade" francesa (vá-se lá saber, ao certo, o que é que tal significa) talvez seja uma das características marcantes de uma certa elite francesa, assim como o medo da concorrência - e isto, apesar de (paradoxalmente, diriam aos anti-franceses militantes) continuar a ter uma sociedade e uma economia em que se cultiva quase sacrossantamente o valor "livre concorrência" (mesmo- talvez, sobretudo - em termos jurídicos). Apesar de tudo, a França continua a manter uma vitalidade económica e empresarial relativamente notáveis (malgré tout, continua a ser a quarta economia mundial, no que diz respeito a alguns dos princípais índices e critérios de análise)...
Ora, o dilema/paradoxo e, simultaneamente, o desafio de uma certa cultura dominante gaulesa passa por dar sentido à tal maneira sui generis de ser e de viver, aproveitando as vantagens da mondialisation, ao mesmo tempo que a proscrevem; reencontrar uma nova forma de vida, viável, para o que de bom terá o dito modelo (tão europeu) de Estado social, mas recriando-o à la française... Enfim, ultrapassar os equívocos de quem, aparentemente, recusa a realidade envolvente, nela integrando-se, contudo, por vezes, exemplarmente (ver alguns casos de sucesso global de empresas, organizações, instituições francesas).
O desafio é esse mesmo: eu não acredito nos "mitos" de uma certa elite (opinião pública ou simplesmente, publicada) francesa; no entanto, tenho muita curiosidade em saber como é que a França dos nossos dias dará a "volta à questão". Como conseguirá evoluir, respeitando os seus "mitos" (talvez meras ilusões de um tempo perdido?), sendo simultaneamente, competitiva (em sentido amplo), criadora de riqueza, cultura, saber e bem estar...
Se o conseguirem - prosseguindo, contudo, tais "mitos" - então, novamente, daqui a uma ou duas décadas, poderão voltar a iluminar o mapa do caminho da Europa (bom caminho, espera-se!), especificamente europeu. Terão, talvez, conseguido alcançar a quadratura do círculo, ou redescoberto o ovo de colombo!
A questão a discutir - parece-me - é precisamente a desses "mitos". A ela também voltarei...
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