O Diário de Notícias de hoje publica um muito interessante artigo de João Caraça, Director do Departamento de Ciência da Fundação Calouste Gulbenkian, o qual reproduzimos pelo seu manifesto interesse científico e didáctico:
"Muito se tem escrito, dito e redito sobre a economia baseada no conhecimento (para a qual estamos em trânsito) e sobre a sociedade da informação (em que nos vamos enredando todos os dias). Na maior parte do que tem sido expresso está implícita a noção de superioridade dos habitantes do presente em relação aos pobres e mesquinhos seres que nos antecederam. Como se no passado a informação e o conhecimento não fossem a chave das relações societais!
Pelo contrário: a sobrevivência da espécie e a nossa passagem por este planeta são bem a prova da adequação dos saberes dos nossos antepassados às condições e às lutas que travaram. Qualquer sociedade é uma rede de comunicação. Ninguém se salva sozinho. O que é novo em cada época são as 'tecnologias de informação' que usamos para nos fazermos entender pelos nossos semelhantes, bem como para respondermos às novas questões que surgem.
A vantagem evolutiva dos humanos foi, como todos sabemos, o desenvolvimento de um sistema eficiente de comunicação usando a voz - a linguagem verbal. Foi assim que nos diferenciámos dos nossos mais directos competidores e conquistámos este cantinho do universo. Outro passo importantíssimo foi a invenção da escrita, isto é, a possibilidade de guardar e conservar os registos do conhecimento transmitido por via da linguagem, usando sistemas simbólicos. As sociedades modernas aparecem a partir do século XV, na Europa, quando o papel passa a estar disponível em quantidade e se introduz o tipo móvel na impren-sa. Passou-se então, no dizer de H. G. Wells (Esquisse de l' Histoire Universelle, Payot, Paris 1926) da idade do templo à idade do livro.
A própria natureza que nos rodeia foi-se transformando concomitantemente: 'A natureza é como se fosse um livro, escrito em linguagem matemática', afirmou Galileu, de modo exemplar. Ora tudo isto não aconteceu por acaso: o uso do pensamento simbólico precisou de ser aprendido e assimilado, para depois poder ser utilizado nas novas condições entretanto criadas.
A industrialização precisava que todos aprendessem a ler, a escrever e a contar. Bem sabemos como os países atrasados, distraídos ou de acordar tardio ainda apresentam níveis preocupantes de analfabetismo. Porém, agora, para além de livros e outros escritos, usamos também computadores e a Internet para comunicarmos. É este o problema da nossa época. Só os literatos entorpecidos por tanta leitura (deles) não vêem que o próprio plano nacional para a leitura apenas peca por estar atrasado três décadas. E que deveríamos ter lançado há já dez anos um plano nacional para a literacia digital. Porém, tudo isto não passa de uma ideia balofa para quem usa o computador somente para substituir a máquina de escrever."
"Muito se tem escrito, dito e redito sobre a economia baseada no conhecimento (para a qual estamos em trânsito) e sobre a sociedade da informação (em que nos vamos enredando todos os dias). Na maior parte do que tem sido expresso está implícita a noção de superioridade dos habitantes do presente em relação aos pobres e mesquinhos seres que nos antecederam. Como se no passado a informação e o conhecimento não fossem a chave das relações societais!
Pelo contrário: a sobrevivência da espécie e a nossa passagem por este planeta são bem a prova da adequação dos saberes dos nossos antepassados às condições e às lutas que travaram. Qualquer sociedade é uma rede de comunicação. Ninguém se salva sozinho. O que é novo em cada época são as 'tecnologias de informação' que usamos para nos fazermos entender pelos nossos semelhantes, bem como para respondermos às novas questões que surgem.
A vantagem evolutiva dos humanos foi, como todos sabemos, o desenvolvimento de um sistema eficiente de comunicação usando a voz - a linguagem verbal. Foi assim que nos diferenciámos dos nossos mais directos competidores e conquistámos este cantinho do universo. Outro passo importantíssimo foi a invenção da escrita, isto é, a possibilidade de guardar e conservar os registos do conhecimento transmitido por via da linguagem, usando sistemas simbólicos. As sociedades modernas aparecem a partir do século XV, na Europa, quando o papel passa a estar disponível em quantidade e se introduz o tipo móvel na impren-sa. Passou-se então, no dizer de H. G. Wells (Esquisse de l' Histoire Universelle, Payot, Paris 1926) da idade do templo à idade do livro.
A própria natureza que nos rodeia foi-se transformando concomitantemente: 'A natureza é como se fosse um livro, escrito em linguagem matemática', afirmou Galileu, de modo exemplar. Ora tudo isto não aconteceu por acaso: o uso do pensamento simbólico precisou de ser aprendido e assimilado, para depois poder ser utilizado nas novas condições entretanto criadas.
A industrialização precisava que todos aprendessem a ler, a escrever e a contar. Bem sabemos como os países atrasados, distraídos ou de acordar tardio ainda apresentam níveis preocupantes de analfabetismo. Porém, agora, para além de livros e outros escritos, usamos também computadores e a Internet para comunicarmos. É este o problema da nossa época. Só os literatos entorpecidos por tanta leitura (deles) não vêem que o próprio plano nacional para a leitura apenas peca por estar atrasado três décadas. E que deveríamos ter lançado há já dez anos um plano nacional para a literacia digital. Porém, tudo isto não passa de uma ideia balofa para quem usa o computador somente para substituir a máquina de escrever."
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